Foram coletadas 1.192 diferentes espécies de plantas do município de Mariana até o Oceano Atlântico.
Desde o rompimento da barragem da mineradora Samarco no município de Mariana em 2015, muitos foram os efeitos nocivos causados ao meio ambiente e à população das cidades localizadas próximas ao epicentro desse desastre. A tragédia de Mariana ainda hoje é considerada a maior da história da mineração e afetou 2 milhões de pessoas em mais de 30 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo.
A pesquisa coordenada por Geraldo Wilson Fernandes, biólogo do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG e Doutor em Ecologia Evolutiva, foi responsável por analisar as espécies de plantas encontradas no curso do Rio Doce. Foram analisados 663 quilômetros através das margens do rio em um trecho que se estende desde o município de Mariana, na Região Central de Minas Gerais, até a foz, em Regência, no Espírito Santo. O intuito desse levantamento de dados era entender a biodiversidade da vegetação nesse percurso para guiar os projetos de restauração a serem implementados nas áreas impactadas pelo rejeito. Foram coletadas 9.471 plantas de 1.192 espécies diferentes, o que evidencia a grande diversidade dessa região.
Geraldo explica que um projeto de reflorestamento que leve em conta as espécies típicas de cada trecho é importante para a garantia da manutenção da biodiversidade:
“O propósito foi conhecer as diferentes matas (da região) para que elas sirvam de espelho para restaurar com biodiversidade e com qualidade o Rio Doce. Não apenas plantar árvores. Porque, na verdade, somente o plantio de qualquer árvore não significa ganho em biodiversidade.”.
As expectativas para o futuro do projeto são boas e o próximo passo é entender os diversos papéis dessas espécies e a relação delas com os polinizadores, dispersores de sementes e outros animais para, por fim, montar uma lista com as espécies de plantas que servirão como norteadores para o reflorestamento da região. Letícia Ramos, bióloga do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução da UFMG e PhD em ecologia, revela estar animada e orgulhosa com o que está por vir:
“Achei muito importante (o projeto) principalmente pela necessidade de recuperação correta dessas áreas. Estar envolvida em um projeto dessa magnitude pra mim foi grandioso, acho que a gente está no processo de mostrar que tem caminhos que devem ser seguidos para garantir a restauração eficiente nesses ambientes.”.
Apesar do sucesso do projeto, Geraldo lamenta a falta de investimento em ciência pelas gestões de governos anteriores com a qualidade e quantidade de recursos que estão sendo oferecidos agora, e considera esse um fator decisivo para o início tardio de ações envolvendo a vegetação destruída após o rompimento da barragem, que aconteceu em 2015. Será produzido um sumário executivo político para orientar os tomadores de decisão em futuros debates que envolvam a restauração da região do Rio Doce afetada pelo desastre.
“A ciência é capaz de produzir conhecimento, mas é preciso que os tomadores de decisão também entendam a importância do investimento em ciência para que ela possa nos ajudar a fornecer as respostas corretas que a sociedade precisa.”. Afirma Geraldo.
Redação: Timóteo DIas
“O lobo e a fênix” também fala sobre abuso sexual, autismo e bulling
A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença com causas ainda desconhecidas. Os pacientes são jovens, em especial mulheres de 20 a 40 anos. Ela pode se manifestar por sintomas diversos, entre os quais fraqueza intensa, dores crônicas, comprometimento da coordenação motora, embaçamento visual, dores articulares e disfunção sexual, intestinal e da bexiga. A doença também pode trazer transtornos emocionais como alterações de humor, depressão e ansiedade. “O sistema imunológico começa a reconhecer o revestimento em volta dos neurônios como algo estranho, então começa a atacar, e com isso, os neurônios vão morrer e uma série de consequências no corpo vão surgir.”, afirma Juliana Tavares, professora do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Em 30 de maio, Dia Mundial da Esclerose Múltipla, a cientista e escritora Ester Roffê, 49, lança “O lobo e a fênix” (Editora Labrador), um romance em meio a traumas, segredos e um diagnóstico avassalador. “Sempre tive fascínio pelas condições neurodegenerativas e usei todo o meu background para retratar os estigmas causados pela doença”, revela a bióloga, doutora em Bioquímica e Imunologia pelo Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
O tratamento consiste em atenuar os efeitos e desacelerar sua progressão. É importante ressaltar que a esclerose múltipla não é uma doença mental; não é contagiosa; e não é suscetível de prevenção. O dia 30 de maio foi o dia escolhido para aumentar a visibilidade em torno da doença e informar a população sobre as necessidades específicas do público que convive com ela.
O livro descreve a trajetória de dois adolescentes - um geek solitário e uma surfista que vê em sua beleza uma maldição - e suas dificuldades de se encaixar nos padrões sociais. “A jornada de Hugo e Solara lança luz sobre nossas lutas individuais mais íntimas e celebra a experiência humana de superar obstáculos e abraçar o amor genuíno em meio aos desafios da vida”, resume Ester Roffê.
“As pessoas rotulam, é como se a pessoa fosse a esclerose múltipla, e ela não é”, disse Juliana Tavares, que destaca a constante estigmatização sofrida por pacientes que possuem a doença. “A atenção que a gente pede para a população geral é que ela se informe, para que não se propague nenhuma informação falsa e sem comprovação científica sobre a doença”, afirma.
“Primeiro você começa a ter uns sintomas loucos, e aí nenhum médico sabe o que tá acontecendo com você, e aí você descobre e vem um furacão que ressignifica sua vida inteira”. O depoimento da Paloma Saraiva, conta sobre como foi o processo de seu diagnóstico de esclerose múltipla, uma doença ainda sem cura que faz o sistema de defesa de uma pessoa atacar o seu próprio organismo provocando uma série de sintomas limitantes. “Eu não posso dizer que eu tenho uma vida igual a que eu tinha antes, porque eu não tenho. O meu mote de vida é: eu faço o melhor com o que eu tenho”, destaca Paloma.
Professora Maria de Fátima e Professor André OliveiraSegundo pesquisa de professores do ICB, tratamento para doenças no fígado têm sido pouco eficazes no Brasil
As doenças do fígado são muito comuns no Brasil, a cada 33 mortes, uma é causada por patologias no fígado, totalizando 3% das mortes no país. O professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica e membro do INCT-NanoBioFar, André Oliveira, junto com a professora Maria de Fátima Leite, do mesmo departamento, coordenou uma pesquisa que fez o maior levantamento já feito sobre doenças hepáticas no país, trazendo dados entre os anos de 1996 e 2021.
O estudo, que foi feito através das informações disponíveis pelo Datasus, programa do governo que disponibiliza informações sobre a saúde pública no Brasil. Essas informações foram separadas em diversas categorias, para que seja perceptível uma análise crítica dos dados, como por exemplo: região, etnia e gênero. Uma das informações que mais se destaca é o constante aumento da taxa de mortalidade ao longo desses 25 anos, sem nenhuma diminuição com o passar do tempo
Além disso, também foram notadas 4 enfermidades que aparecem com mais frequência: O Câncer de fígado, a doença alcoólica do fígado, fibroses/cirroses e a hepatites virais, com variações de ocorrência baseadas em particularidades, como por exemplo, na região sudeste o câncer de fígado prevalece, enquanto no nordeste a doença hepática alcoólica é mais frequente, assim como também é com os pacientes do sexo masculino. Essas particularidades são muito importantes para a compreensão mais precisa do problema, já que demonstram várias características da vida dos cidadãos brasileiros abordando sua diversidade, como alimentação e comportamento.
O professor André Oliveira chama atenção para a forma como os investimentos na área são feitos e como isso impacta o tratamento de doenças do fígado, 70% do dinheiro investido é voltado para transplantes de fígado, “O transplante de fígado não é um tratamento, é uma intervenção de emergência”, afirma. Além disso, transplantes estão concentrados nas regiões Sul e Sudeste do país, impossibilitando o acesso a esse recurso para pacientes de outros locais, principalmente na região Norte. A partir disso, o coordenador disse: “O certo seria investir mais nessas doenças e mudar as características desses investimentos.”, buscando outras formas de se tratar problemas no fígado.
Esse levantamento pode indicar para o poder público diferentes formas de se lidar com essas doenças no futuro, já que os estudos indicam que se a forma atual se manter, a tendência é que a taxa de mortalidade continue aumentando. Segundo André, o diagnóstico costuma ser tardio, o que dificulta bastante o processo de tratamento, portanto, é de extrema relevância o foco em diagnósticos prévios que podem melhorar muito a qualidade de vida do paciente, “No caso do fígado, a prevenção e o conhecimento salvam vidas”, afirma.
Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.
Redação: Gabriel Martins
Laura Amado, Lucas Kangussu e Laura Amaral. Créditos: Pedro FigueiredoExperimentos com animais mostram que peptídeo estudado pelo grupo produz efeitos ansiolíticos e antidepressivos
O sistema renina-angiotensina (SRA) é um sistema biológico muito complexo, formado por peptídeos, enzimas e receptores, presente em todos os tecidos do corpo humano. Em geral, o SRA é conhecido pelo seu papel regulador no sistema cardiovascular e renal. Além disso, o SRA também desempenha importantes ações fisiológicas no sistema nervoso central e, nos últimos anos, vem sendo muito estudado em doenças neurológicas, cerebrovasculares, neurodegenerativas e em transtornos neuropsiquiátricos.
A Alamandina, peptídeo do SRA, descoberto em 2013 pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor do Departamento de Fisiologia e Biofísica do Instituto de Ciências Biológicas, Robson Santos, é um alvo farmacológico potencial para o tratamento de transtornos neuropsiquiátricos, demonstra pesquisa desenvolvida pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor Lucas M. Kangussu, do Departamento de Morfologia do Instituto de Ciências Biológicas.
Os resultados publicados pelo grupo no periódico da Society for Behavioral Neuroendocrinology, Hormone and Behavior, em 2024, complementam outro estudo publicado no mesmo periódico em 2021. Juntos os dois estudos mostram que a Alamandina, um peptídeo do SRA, através do receptor MrgD, atenua comportamentos tipo-ansioso e depressivo em ratos transgênicos.
A relevância desse estudo é particularmente significativa no contexto dos transtornos de ansiedade e depressão, que afetam milhões de pessoas no Brasil e em todo o mundo (aproximadamente 10% da população mundial), impactam os serviços de saúde e causam importantes repercussões sociais e econômicas. Apesar dos avanços em relação aos medicamentos para o tratamento desses transtornos, uma parcela significativa de pacientes é resistente/refratária às medicações disponíveis. Assim, existe uma busca contínua e incessante de novas moléculas para ampliar o arsenal farmacológico para o tratamento da ansiedade e depressão.
A pesquisa conduzida no ICB pelo grupo de pesquisa liderado pelo professor Lucas Kangussu, destaca-se por apresentar uma abordagem farmacológica nova e promissora na busca de novos alvos para o tratamento de transtornos neuropsiquiátricos direcionados para o SRA. As próximas etapas estão concentradas no entendimento dos mecanismos celulares e moleculares envolvidos nos efeitos ansiolíticos e antidepressivos da Alamandina.
Além disso, os pesquisadores também estão investigando se medicamentos já amplamente utilizados para tratar doenças cardiovasculares, como a hipertensão arterial, aumentam os níveis de Alamandina. Dessa forma, podem identificar novas possibilidades potenciais para o tratamento de transtornos de ansiedade e depressão com o reposicionamento de fármacos, ou seja, descobrir novos usos para remédios já usados para tratar outras doenças.
Os trabalhos citados acima foram desenvolvidos pelas alunas Laura Amado Costa e Laura Beatriz Oliveira Amaral, mestrandas do Programa de Pós-Graduação em Neurociências da UFMG, em parceria com os professores Robson Santos e Maria José Campagnole-Santos do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Nanobiofarmacêutica (INCT-Nanobiofar) e com financiamento da Fapemig, CNPq e CAPES.
Para acessar a pesquisa completa, clique aqui.
Grupo de pesquisa em Biologia do Sistema Renina-Angiotensina liderado pelo Prof. Lucas Kangussu. Créditos: Pedro Figueiredo
Redação: Gabriel Martins e Lucas Kangussu
Portaria 02/2024, assinada em 18 de março, regulamenta processos para aquisições de bens, materiais e prestação de serviços em projetos não sujeitos a regras próprias de financiadores.
Com o objetivo de aprimorar a execução da gestão administrativo-financeira dos projetos de ensino, pesquisa e extensão, a Fundep regulamentou procedimentos para compras de bens e materiais, bem como contratação de serviços, no âmbito de projetos financiados com recursos de financiadores privados ou de origem internacional.
A Portaria 02/2024, assinada em 18 de março, oficializa o regulamento que estabelece condições tanto para a compra direta pelo coordenador de projetos, no caso de despesas de até R$ 8 mil, quanto para a atuação das equipes de Compras e dos Centros Integrados de Atendimento (CIAs), no caso de processos de maior valor.
A nova regulamentação também disciplina as condições para uso do chamado Suprimento de Fundos, quando o coordenador solicita à Fundep que lhe repasse diretamente recursos para aquisição de produtos de pequeno vulto, contra prestação de contas. Todos os procedimentos descritos na Portaria serão aplicados sempre quando não conflitarem com regras próprias dos financiadores.
As modalidades de compras previstas são a de aquisição simples - para bens, materiais de consumo e serviços em valor igual ou inferior a R$ 8 mil reais; aquisição direta - referente às aquisições em valores superiores a R$ 8 mil reais e inferiores ou iguais a R$ 20 mil reais; aquisição mediante cotação, para valores superiores a R$ 20 mil reais.
Na aquisição simples, caso prefira, o próprio coordenador pode se encarregar da compra, apresentando nota fiscal em nome da Fundep, que se responsabiliza pelo pagamento. Nesta modalidade, é proibida a aquisição de produtos e equipamentos controlados e o pagamento a pessoas físicas.
Na aquisição direta, a compra precisa passar pela Fundação, entretanto, sem obrigatoriedade de parecer jurídico, o que agiliza o processo. No caso das aquisições acima de R$ 20 mil, chamadas de aquisição mediante cotação, a dispensa de parecer jurídico depende de existência de três propostas formais, dispensa de licitação ou adequação às hipóteses de inexigibilidade.
A regulamentação também define condições para uso do Suprimento de Fundos – recurso, no valor máximo de R$ 8 mil, liberado diretamente ao coordenador, para ser usado em compras de pequeno vulto, mediante preenchimento de formulário próprio disponível no Espaço do Coordenador.
Entre as regras, estão o limite a 30% do total do projeto e a obrigatoriedade prestação de contas da utilização dos recursos em até 65 dias.
Também com o objetivo de promover a otimização de processos e a diminuição do tempo de aquisição de itens, proporcionando maior agilidade no acesso aos materiais fundamentais aos trabalhos desenvolvidos por suas apoiadas e coordenadores de projetos, estão em vigor, também, novas regras para aquisição de passagens aéreas e terrestres.
Essa compra pode ser feita de três diferentes maneiras: pela modalidade aquisição simples, tanto pelo próprio coordenador quanto pela Fundep; utilizando o Suprimento de Fundos ou, ainda, por meio de reembolso. Neste caso, a confirmação da despesa deve ser feita com a entrega do ticket de embarque, entretanto, é necessário observar se o financiador veda reembolso de despesas.
Confira aqui o documento na íntegra.