Projeto de Vigilância Genômica confirma que estamos vivendo uma epidemia de arboviroses em vários estados brasileiros
Diante do recente crescimento de casos de dengue e chikungunya no Brasil em 2023, pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG e do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury conduzem um estudo de vigilância genômica e epidemiológica dos casos de arboviroses, no intuito de acompanhar o cenário da distribuição e dos determinantes das doenças e emitir alertas para o sistema público de saúde, se necessário. Arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos, principalmente, por mosquitos.
Os pesquisadores compararam a taxa de positividade para arboviroses - nos intervalos de 1 de janeiro a 29 de julho, dos anos de 2022 e de 2023 -, quando ocorreram picos de casos de arboviroses. Foram usadas amostras positivas para arboviroses, em exames de diagnóstico sorológico (IgM) e molecular (antígeno e PCR), de cerca de 14 estados brasileiros, incluindo os quatro mais populosos, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia, e envolvendo as cinco grandes regiões do país (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul).
Dentre os cerca de 62 mil diagnósticos analisados, só em Minas Gerais o número de casos de chikungunya em 2023 já é quase 7 vezes maior do que o registrado em 2022. No mesmo estado, os registros de Dengue se apresentaram 3 vezes maior do que no ano anterior. Além de confirmar que há uma epidemia de arboviroses em diversas regiões brasileiras, a pesquisa encontrou um alto índice de casos de coinfecção no estado de Minas Gerais.
Já se sabia da ocorrência de infecção mútua em cerca de 2-3% dos casos, durante os picos de epidemia por arboviroses. A taxa de coinfecção entre os dois virus no estudo foi de 11%.
Um grande diferencial do estudo foi o uso de um teste molecular capaz de detectar simultaneamente vários vírus. “A Biomanguinhos doou para a UFMG os paineis de detecção do vírus”, destaca o coordenador do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, professor Renato Santana. “Como os sintomas clínicos desses arbovírus são muito parecidos e é comum confundir dengue e chikungunya, foi isso que permitiu diferenciar uma doença da outra e ainda observar a ocorrência das duas juntas”, esclarece Santana, reiterando a grande importância de se conhecer a co-circulação dos dois vírus e as altas taxas de casos de coinfecção em nosso estado.
A bióloga Danielle Zauli, coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento do Hermes Pardini/Grupo Fleury, vai além na análise dos resultados. Segundo ela, dentre os estados com maiores números de casos, Minas Gerais se destaca, possivelmente por ter fronteira com estados de outras regiões brasileiras. “Nossos resultados reforçam a dengue como doença endêmica no nosso país, com circulação em todo o território nacional. Já sobre os casos de chikungunya, ao contrário de dengue, a pesquisa concluiu que estão associados a eventos mais recentes de importações deste vírus de estados do nordeste. Alertamos também para a importância do monitoramento nas fronteiras estaduais”, esclarece a pesquisadora e microbiologista do Laboratório Hermes Pardini.
Dentre as hipóteses para a ocorrência das duas doenças juntas, os pesquisadores da UFMG e do Laboratório Hermes Pardini defendem os altos índices de chuvas em 2022-2023; o aumento do número de mosquitos nos últimos anos; e a interrupção das campanhas de prevenção e controle de vetores decorrentes da pandemia de covid-19. Eles defendem a manutenção dos programas de vigilância viral, além das medidas de prevenção e de controle das arboviroses no Brasil. “Há necessidade de acompanhamento dos sintomas e evolução clínica dos casos de coinfecção por estes dois vírus e de que os órgãos de saúde reforcem o controle dos vetores Aedes aegypti no Brasil”, recomenda o virologista da UFMG.
“O resultado da pesquisa mostra também a necessidade de alertar a população para a importância da testagem para arboviroses”, alerta a infectologista do Hermes Pardini, Melissa Valentini. Segundo a médica, as doenças transmitidas pelo mesmo mosquito Aedes aegipty, como zika, chikungunya e dengue, têm quadros clínicos semelhantes e, na maioria das vezes, a diferenciação só pode ser confirmada com testes laboratoriais. Os principais sintomas, de acordo com a infectologista, são, dor muscular e nas articulações, febre, fadiga e outros, como dores articulares por períodos prolongados.
“Em casos suspeitos de dengue ou chikungunya, como os sintomas são agudos e semelhantes, deve-se recomendar ao paciente fazer o diagnóstico diferencial, para o adequado acompanhamento e conduta clínica. Existem testes específicos para dengue, zika vírus e chikungunya. O diagnóstico correto é importante para que as autoridades de saúde possam tomar as medidas necessárias para controle da doença e para que os médicos possam dar o tratamento adequado ao paciente”, reforçou a infectologista.
Estes resultados foram gerados com recursos do Instituto Todos pela Saúde (ITPs) e do Ministério da Ciência e Tecnologia como ampliação da rede de covid-19 para vigilância de outros vírus.
Pesquisadores do Laboratório Hermes Pardini/Grupo Fleury - favor contatar a jornalista Aline Rosa - (31) 98892-3987 ou
Pesquisadores do Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas - ICB UFMG, favor contatar o jornalista Marcus Vinicius dos Santos - (31) 99131 9115 ou
Tema da 32ª edição, entre 23 e 27 de outubro, versa sobre democracia, desenvolvimento sustentável e inteligência artificial
A Universidade Federal de Minas Gerais divulgou as normas para inscrição de trabalhos para apresentação na Semana do Conhecimento 2023. Neste ano, a atividade chega à 32ª edição e as inscrições de trabalhos, em todas as modalidades, já estão abertas. Integrantes da comunidade universitária podem se inscrever até 14 de setembro.
O tema da edição 2023, a segunda realizada presencialmente desde a pandemia, é “Desenvolvimento sustentável e democracia na era da inteligência artificial”, em consonância, com o tema da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
A Semana do Conhecimento reúne produções de estudantes, docentes e servidores técnico-administrativos, nas áreas de ensino, pesquisa e extensão, no período de 23 a 27 de outubro. A programação é composta por atividades realizadas pelas Unidades Acadêmicas e pelos órgãos da Administração Central da UFMG.
As informações sobre o evento foram reunidas na página da Semana do Conhecimento.
A UFMG realiza - entre 23 e 27 de outubro de 2023 - a Semana de Iniciação Científica. O evento é dirigido à divulgação dos trabalhos desenvolvidos por alunos de graduação e do ensino médio na UFMG, bolsistas ou voluntários de iniciação científica, os quais também são avaliados por cientistas, da UFMG e externos à instituição.
A 22ª Semana de Iniciação Científica e o 13º Seminário de Iniciação Científica Júnior, ambos organizados pela Diretoria de Fomento à Pesquisa da Pró-reitoria de Pesquisa (PRPq) da UFMG, integram a Semana do Conhecimento 2023, cujo tema é “Desenvolvimento sustentável e democracia na era da inteligência artificial”.
A apresentação é obrigatória para ICs e orientadores dos projetos agraciados com bolsas dos editais descritos ao final desta notícia, mas estudantes de graduação da UFMG que não estejam vinculados a estes editais também podem fazer sua inscrição. Estudantes de outras universidades só podem se inscrever se forem participantes de algum dos editais citados.
- Edital 04/2022 – PIBIC/CNPQ, PROBIC/FAPEMIG, PIBIC-AF
- Edital 05/2022 – PIBITI/CNPQ
- Edital 07/2022 – PIBIC EM/CNPQ
- Edital 08/2022 – BIC ensino médio/ FAPEMIG
- Programa de Iniciação Científica Voluntária de graduação e ensino médio – alunos que iniciaram a ICV no período de 01/04/2022 a 31/03/2023.
Chamada Interna 11/2023 - PrPQ UFMG
Homenagem destaca antigos alunos que fazem sucesso no mercado de trabalho e busca mostrar algumas das várias áreas de atuação desses profissionais
Em comemoração ao mês do Biólogo, a partir de 1º de setembro, o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG apresenta, em formato de vídeo, o depoimento de profissionais egressos que se formaram aqui, valorizam a formação que receberam e que construíram carreiras de sucesso no mercado de trabalho, alguns deles em áreas ainda pouco exploradas da Biologia.
Além de prestar uma homenagem àqueles que trabalham em busca de melhores condições de vida para todos os seres do planeta, “queremos aproveitar a data para encorajar as novas gerações de estudantes a ampliar seus horizontes, a conhecer e a explorar as diversas possibilidades que a Biologia oferece”, afirmou o jornalista Marcus Vinicius dos Santos, coordenador da Assessoria de Comunicação e Divulgação Científica do ICB UFMG. De acordo com informações do coordenador do curso de Ciências Biológicas, professor Carlos Renato Machado, são mais de 80 áreas de atuação possíveis para o estudante que conclui a graduação em Ciências Biológicas.
"Nós ouvimos vários biólogos com o objetivo de mostrar as múltiplas possibilidades de atuação desses profissionais, a importância da formação que receberam e o êxito dos estudantes que passaram pelo curso de Ciências Biológicas na UFMG”, afirma Henrique Castanheira, videomaker idealizador do projeto, que captou e editou as imagens. Nos vídeos, eles falam sobre suas trajetórias fora da academia e das salas de aula. São profissionais que ousaram construir suas carreiras na indústria, por exemplo. Entre outros detalhes, eles revelam como descobriram seus nichos mercado, os desafios do caminho percorrido e a contribuição do percurso formativo oferecido pelo ICB para sua realização pessoal e profissional, além de retorno financeiro e social.
Os depoimentos são apresentados em vídeos com cerca de dois minutos de duração, cada, e serão publicados semanalmente, às sextas-feiras, nos perfis institucionais do ICB: Instagram, LinkedIn, Facebook e Youtube.
A criação da identidade visual e o design das peças de divulgação são de Ana Clara Veloso, bolsista FUMP.
Projeto busca ampliar o acesso de autoridades e população sul-africanas a dados epidemiológicos do país sobre diferentes doenças
O trabalho de Joicymara Santos Xavier, do programa de Pós-graduação em Bioinformática do ICB UFMG (PPGBio), recebeu o prêmio Capes de Teses 2023, na Área Ciências Biológicas I. A lista de vencedores foi publicada no dia 14 de agosto. Juntamente com outros 48 estudos, em diferentes categorias, o trabalho foi selecionado dentre 1.469 teses. Esse prêmio leva em conta os seguintes critérios: originalidade do trabalho, relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação. Segundo a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, Capes, as melhores teses de doutorado do Brasil são premiadas com um valor de até R$3 mil reais, destinados aos seus orientadores.“Quando eu vi que meu nome estava lá eu quase caí da cadeira”, comemorou a autora.
A tese se refere ao desenvolvimento de uma metodologia que torna mais eficiente o acesso a dados e informações sobre doenças comuns à população da África do Sul, local onde a pesquisadora desenvolveu parte de seu doutorado. Segundo Joicymara, as metodologias utilizadas anteriormente não se preocupavam com a disponibilidade dos dados que os tornassem reprodutíveis e atualizados ao longo do tempo. Isso a motivou a criar duas ferramentas, a ThermoMutDB e a SARS-CoV-2 Africa Dashboard, que modificaram a forma de armazenamento, atualização e vigilância de dados biológicos.
ThermoMutDB é uma base de dados pública, administrada manualmente sobre dados termodinâmicos de proteínas. Joicymara esclarece que a base de dados usada anteriormente não estava atualizada há sete anos. Outra ferramenta, a SARS-CoV-2 Africa Dashboard, é interativa e permite a visualização e análise dos dados genômicos de covid-19 do continente africano tanto por cientistas quanto pela população, afirma Joicymara, também integrante do Centro de Resposta para Epidemia e Inovação (CERI), que identificou as variantes beta e ômicron do vírus durante a pandemia.
A autora chama a atenção para que os dados não sejam apresentados apenas para a comunidade científica, mas também para as comunidades alheias a ela: “A gente pega a sequência de covid, trata os dados, gera os metadados e transforma tudo em visualizações onde as pessoas podem interagir facilmente e fazer as análises necessárias”. Ela destacou a importância do trabalho de divulgação científica para a sociedade como um todo, dizendo que “a gente precisa, enquanto cientistas, informar o público leigo que muitas vezes são tomadores de decisão”.
Além disso, essas ferramentas já tem uma prospecção de serem utilizadas com outras doenças pelo continente africano, para expandir essa tecnologia em outras áreas. Outras instituições, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade da Flórida (UFL), já demonstraram interesse nas novas metodologias.
Para o professor Aristóteles Góes, coordenador do PPGBio, destaca a relevância que ele tem para o ICB e para a Universidade: “Isso é uma comprovação do grau de excelência acadêmica desse programa”, que é o único programa de pós-graduação em Bioinformática que possui conceito Capes 7, em todo o Brasil”. O Conceito Capes é resultado de uma avaliação dos programas de mestrado e doutorado, em que 7 é a nota máxima e demonstra padrão de qualidade e desempenho altíssimo, de nível internacional.
O coordenador também demonstrou muita felicidade com o resultado da premiação, “O simples fato de a gente ter recebido esse prêmio já foi um estímulo, uma alegria e uma motivação muito grande para todos os mestrandos e doutorandos”. Além disso, ele destaca também a boa visibilidade que isso trará para o ambiente acadêmico: “mais prestígio ao programa, a este Instituto de Ciências Biológicas e à Universidade, como um todo.”
LEIA O ARTIGO:
Nome do artigo: ThermoMutDB e SARS-CoV-2 Africa Dashboard: abordagens de ciência de dados para integração, análise e vigilância de dados biológicos
Autora: Joicymara Santos Xavier
Data de publicação: 27 de outubro de 2022
Mais informações para imprensa:
Joicymara Santos Xavier - Doutora em Bioinformática -
Aristóteles Góes Neto - Coordenador do Programa de Bioinformática ICB UFMG -
Redação: Gabriel Martins Santos, sob orientação de Marcus Vinicius dos Santos