O professor Gustavo Menezes, do departamento de Morfologia e do Programa de Biologia Celular do ICB, vai apresentar resultados de pesquisa orientada por ele sobre a importância do Sistema Educacional Hepático para a defesa constante do nosso organismo.
O fígado é um órgão de funções múltiplas e fundamentais para o funcionamento do organismo. Entre essas funções, uma pouco conhecida, mas de extrema importância, é o papel desse órgão na prevenção de infecções locais ou generalizadas devido à sua capacidade de remoção de bactérias da circulação sanguínea impedindo a disseminação desses microrganismos.
Essa função de "filtro" se dá devido à grande quantidade de macrófagos, células que englobam e digerem os resíduos provenientes de processos celulares e também responsáveis pela captura e eliminação de bactérias presentes no sangue. Essa função é importante na manutenção do equilíbrio e bom funcionamento do fígado.
Segundo o professor, neste projeto desenvolvido pela aluna de doutorado do programa de Biologia Celular da UFMG Bruna Araújo David, foi utilizado um modelo químico de eliminação total dos macrófagos hepáticos, com o objetivo de estudar a dinâmica de reposição dessas células e as consequências dessa substituição para o organismo.
Como é
Ele explica que o uso excessivo de medicamentos e outras drogas, infecções, transplantes, irradiação e retirada parcial do órgão para remoção de tumores, por exemplo, tem efeito direto sobre os macrófagos hepáticos, e levam grande parte dessas células à morte. Como consequência, o fígado torna-se mais sensível a lesões e menos apto a eliminar bactérias.
Como ainda não há tratamento para lesões hepáticas graves e a única alternativa para salvar a vida do paciente é o transplante de fígado, o objetivo desta pesquisa, ainda em andamento, é descobrir como funciona o refinado sistema orgânico que faz a reposição dessas células e as consequências dessa substituição para o organismo.
O modelo de eliminação de macrófagos usado na pesquisa tem efeito semelhante ao observado em pacientes irradiados para o tratamento de alguns tipos de câncer, sendo portanto de enorme relevância clínica. Complicações clínicas decorrentes do mal funcionamento do fígado pode reduzir consideravelmente a capacidade do organismo em lidar com possíveis infecções.
“Nossa missão é entender melhor o processo de recuperação da função de "defesa" do organismo que o fígado exerce, buscando alternativas que reduzam a mortalidade de pacientes com doenças graves hepáticas, e também aqueles que são submetidos a irradiação durante o tratamento de cânceres”, esclarece Menezes.
Nos fim das contas, a ideia é descobrir uma forma de tratamento que possa acelerar o processo de diferenciação – mecanismo pelo qual a célula se adapta para desempenhar uma tarefa específica -, de células da medula óssea em macrófagos do fígado.
Avanços
O que se sabe até agora é que, após a remoção total dos macrófagos hepáticos, um grupo específico de células brancas do sangue são recrutadas para dar origem aos "novos" macrófagos.
“Entretanto, nós mostramos que os prejuízos observados na ausência dessas células se mantêm ou são potencializados, mesmo quando a quantidade original já está restabelecida, por que as novas células são diferentes das antigas e desempenham funções distintas das que existiam originalmente”, resume.
Desta forma, o que se pretende é descobrir uma maneira de "educá-las" para serem como um macrófago hepático e desempenhar suas funções originais.
Esse processo é determinado pelo ambiente tecidual e demanda um tempo, que chamamos de janela de susceptibilidade, onde o fígado se encontra mais susceptível a lesões e a capacidade de remoção de bactérias da circulação sanguínea está comprometida. Esses são os tipos de doenças mais graves do fígado em seres humanos.
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