Artigo publicado na revista internacional Viruses mostra que há uma grande diversidade de sublinhagens circulando em Belo Horizonte e que São Paulo contribuiu para a disseminação dessa variante no país em 70% dos casos
A Ômicron é uma variante do SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. Uma de suas subvariantes, a linhagem B.1.1.529, foi relatada à Organização Mundial da Saúde pela África do Sul em novembro de 2021, e em janeiro de 2022 já era a cepa predominante em grande parte do planeta. Por ser mais transmissível que o vírus original e com o temor da possibilidade -- não confirmada -- de que ela pudesse não ser contida pelas vacinas anti-covid19 disponíveis, todos os serviços de vigilância epidemiológica se ocuparam de estudá-la e prevenir o pior.
Para compreender os efeitos da introdução dessa variante em Minas Gerais, uma pesquisa sediada no Laboratório de Biologia Integrativa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais analisou 430 amostras sequenciadas do Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2), coletadas na capital do estado, Belo Horizonte, entre novembro de 2021 a junho de 2022.
Dentre os resultados, publicados na revista internacional Viruses, no final de fevereiro, apesar do rápido crescimento epidêmico causado por esta variante, não houve aumento de óbitos e internações em Minas Gerais, o que os cientistas atribuem principalmente ao desenvolvimento do programa de vacinação no país, reforçando a relevância das vacinas como instrumentos-chave para proteger a saúde global. O artigo também é o primeiro a publicar resultados dentre os projetos financiados pelo Instituto Mulheres do Brasil, ligado ao grupo do Magazine Luíza.
Por outro lado, as significativas alterações nas variantes comprovam sua associação ao aumento da incidência da doença. “Uma grande diversidade de sublinhagens Ômicron circulava na capital mineira, mantendo, no entanto, o mesmo padrão observado em todo o Brasil”, afirma o coordenador do estudo, professor Renato Santana Aguiar, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do ICB UFMG. Foram analisados 72% de todos os genomas SARS-CoV-2 disponíveis na cidade à época.
“A diversidade observada é produto de um grande número de importações internacionais e nacionais”, destaca o cientista, referindo-se ao trânsito de pessoas tanto pelo Brasil quanto para o exterior. Análises filogeográficas, que consideram os processos históricos que podem ser responsáveis pela distribuição geográfica dos indivíduos a partir de análises dos padrões genéticos encontrados, demonstraram forte conexão epidemiológica entre Minas Gerais e São Paulo.
“O estado de São Paulo se mostra como um importante polo de disseminação viral em todo o país, contribuindo com cerca de 70% de todas as introduções virais Ômicron detectadas em Minas”, reforça, lembrando ainda que o aparecimento das linhagens Ômicron BA.1 e BA.2 foram responsáveis pela manutenção de um elevado número de casos de covid-19 em Minas Gerais durante o período do estudo.
“A gente também identificou algumas sequências de linhagens BA.4 e XAG, mas ainda é necessário concluir nossas análises de vigilância genômica para avaliar seu impacto na saúde pública de nosso estado”, afirma Renato Santana. Mas o estudo tem uma limitação que o impede de ser ainda “a última palavra sobre o assunto”: Apesar do esforço para gerar um conjunto de dados proporcional e preciso da diversidade do SARS-CoV-2 no Brasil, o número de casos positivos sequenciados ainda é baixo, do ponto de vista estatístico, e a viabilidade computacional para lidar com conjuntos de dados muito maiores ainda é um problema.
Além do Instituto Mulheres do Brasil, o estudo foi financiado pela Rede Corona-ômica BR, afiliada à RedeVírus MCTI, pelo MEC CAPES 118, FINEP, UFMG-NB3, e Conselho de Pesquisas Médicas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, tendo apoio ainda dos Laboratórios Hermes Pardini e de outras instituições e iniciativas.
Dynamics of Early Establishment of SARS-CoV-2 VOC Omicron Lineages in Minas Gerais, Brazil
Renato Santana e colaboradores
Viruses. Special Issue Coronavirus Genome Evolution, Recombination and Phylogeny
https://www.mdpi.com/1999-4915/15/2/585