Uma parceria entre a Escola de Medicina de Harvard e o Instituto de Ciências Biológicas da UFMG identificou os grupos de neurônios e vias do sistema nervoso central que são importantes para o controle da temperatura corporal em situações de estresse emocional.
Publicada na revista Current Biology, do grupo Cell Press, a descoberta é importante na medida em que pode auxiliar na compreensão dos circuitos centrais e tipos neuronais envolvidos na febre de origem emocional ou psicogênica. Segundo a autora, Natalia Lima Santos Machado, que fez seu doutorado em Fisiologia e Farmacologia no ICB, orientada pelo professor Marco Antônio Peliky Fontes, e agora atua no laboratório do professor Clifford Saper, o estudo, financiado pela bolsa de doutorado do CNPq, pode facilitar o desenvolvimento de potenciais tratamentos para a febre emocional, uma vez que os medicamentos comuns para febre, não são efetivos contra a febre emocional.
O estresse provoca diversas respostas involuntárias (autonômicas) no organismo humano ou animal, incluindo aumento da temperatura corporal. Apesar de a febre emocional não ser considerada uma doença, ela está associada ao aumento do período de internação de pacientes e, de fato, possui difícil tratamento e diagnóstico. A metodologia adotada envolveu novas e diferenciadas técnicas de manipulação genética, associadas a investigação da anatomia do sistema nervoso e uso de imagens em infravermelho de camundongos.
Natalia Machado esclarece que quando investigada a função de um grupo específico de “células nervosas que liberam o neurotransmisor glutamato” (neurônios glutamatérgicos) os cientistas perceberam que este grupo neuronal tem papel importante na regulação do tecido adiposo marrom, que é essencial para produção de calor e aumento da temperatura corporal em roedores. Cientificamente falando, “os neurônios glutamatérgicos na área hipotalâmica dorsal que se projetam para o núcleo pálido da Rafe regulam respostas termorregulatórias e também são seletivamente recrutados para que ocorra febre em resposta ao estresse emocional”.
Um aspecto que chamou a atenção da pesquisadora é que durante ativação dos neurônios glutamatérgicos da área dorsal do hipotálamo, não foi observada resposta vasoconstritora, o que seria esperado no caso de estresse, mas houve vasodilatação. “Estes resultados demonstram que dois circuitos centrais controlam a temperatura corporal e a febre emocional. Logo, o circuito identificado neste estudo regula especificamente a produção de calor e possivelmente o rubor causado pelo estresse, independentemente da resposta de vasoconstrição em resposta ao estresse”, afirma.
Quadro: ESTRESSE
O estresse é um estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e levam o organismo a disparar um processo de adaptação. Nessa condição de “lutar ou correr”, provocada pelo estresse, ocorre o aumento da atividade do sistema nervoso simpático, que controla, independentemente da nossa vontade, funções do organismo como batimentos cardíacos, pressão arterial, adrenalina, açúcar no sangue, além da ativação do metabolismo geral do corpo, de forma automática.
Leia o artigo:
A Glutamatergic Hypothalamomedullary Circuit Mediates Thermogenesis, but Not Heat Conservation, during Stress-Induced Hyperthermia
Machado NLS, Abbott SBG, Resch JM3, Zhu L, Arrigoni E, Lowell BB, Fuller PM, Fontes MAP, Saper CB.
Current Biology. 23/JUL/2018; 28(14): 2291-2301.
Orientador: Marco Antônio Peliky Fontes - (31) 3409 2953,
Autora: Natalia Lima Santos Machado,
Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais
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* Jamille Vanessa é estudante de Medicina e integra o projeto Correspondente ICB, com o propósito de produzir regularmente texto, áudio ou vídeo, no formato jornalístico, dirigido a difundir informações relevantes sobre pesquisas desenvolvidas no Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
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